Reseñas de libros

Resenha de livro: MAKING PEACE WITH FAITH: THE CHALLENGES OF RELIGION AND PEACEBUILDING.

Book review: Making peace with faith: the challenges of religion and peacebuilding.

Reseña de libro: Making peace with faith: the challenges of religion and peacebuilding.

Joyce Kelly Costa Silva
Universidade Estadual da Paraíba, Brasil

Revista Latinoamericana, Estudios de la Paz y el Conflicto

Universidad Nacional Autónoma de Honduras, Honduras

ISSN: 2707-8914

ISSN-e: 2707-8922

Periodicidade: Semestral

vol. 2, núm. 3, 2021

revistapaz@unah.edu.hn

Recepção: 03 Junho 2020

Aprovação: 07 Junho 2020



DOI: https://doi.org/10.5377/rlpc.v2i3.10445

Cómo citar / citation: Costa, J. (2021). “Resenha de livro: Garred, M. & Abu-Nimer, M. (2018). Lanham: Rowman & Litlefield”, Estudios de la Paz y el Conflicto, Revista Latinoamericana, Volumen 2, Número 3, 132-135. DOI: 10.5377/rlpc.v2i3.10445

Devido ao grande número de notícias que relacionam a religião a casos de violência, revolta, discriminação, intolerância, conflito e guerra, a fé vem ao longo dos anos 2000 sendo comumente mais associada ao conflito do que com a paz. Por isso, atualmente, algumas tradições religiosas são tratadas com mais ceticismo do que outras, a exemplo do Islã. Seguindo uma crescente onda de publicações as quais discutem a “ambivalência da religião”1, ou seja, a ideia de que da mesma forma que a religião pode ser usada para justificar atos de violência ela pode ser usada para fundamentar ações em favor da paz, o livro “Making Peace with Faith: The Challenges of Religion and Peacebuilding” expõe algumas discussões sobre as ações para a paz provenientes de pessoas religiosas comuns ao longo do século XXI. Inicialmente, o objetivo dos editores é complementar os trabalhos já publicados sobre a importância da religião na construção da paz, mas a obra vai além. Ela mostra o trabalho concreto de indivíduos religiosos que abrem mão das suas próprias vidas em favor da paz. Assim, aborda os desafios e preconceitos enfrentados por esses construtores da paz religiosamente inspirados, e como eles fazem para superar esses desafios em diversos contextos de violência ao redor do mundo.

Antes de adentrar nos casos em que pessoas religiosas trabalham na construção da paz é preciso considerar que a religião ou a fé não precisam ser percebidas como conceitos distintos, visto que, no contexto anterior ao Iluminismo Europeu não havia separação entre o “secular e o sagrado”, o espiritual permeava as visões de mundo holísticas que moldavam a vida cotidiana. O argumento tipicamente Ocidental de separação entre as esferas secular e religiosa promove um tipo de limite sobre o próprio entendimento da religião na construção da paz, na medida em que considera a religião como inerentemente violenta. Sendo assim, a partir de uma visão holística da religião e da construção da paz (considerada como um conjunto de atividades destinadas a reunir pessoas e abordar as causas estruturais subjacentes de um conflito) a obra enfatiza o trabalho único de construtores da paz que mediante suas crenças em algum tipo de realidade espiritual desenvolvem ações transformadoras nos indivíduos e na sociedade em busca do estabelecimento de uma “paz positiva”2.

Dessa forma, o livro é dividido em quatro seções temáticas cada uma contendo três capítulos (total de doze) de diferentes autores, religiões e temas, mas com ênfase no cristianismo e no islamismo. Em cada capítulo é apresentada uma questão inicial que é respondida pelo autor de forma reflexiva com o objetivo de mostrar as próprias experiências pessoais dos autores no campo da construção da paz religiosa. A parte I, “Engajando a Própria Fé”, estimula a reflexão sobre a fé de cada um. Para que os praticantes da fé possam ser úteis na construção da paz é essencial que eles saibam o que há em sua fé que pode inspirar e sustentar o seu trabalho pela paz. Eboo Patel, fundador do Interfaith Youth Core, mergulha profundamente na religião Islâmica em busca de uma teologia de cooperação inter-religiosa. A experiência de Patel como ismaelita muçulmano faz com que ele sinta na pele o prejuízo que a divisão pode causar, pois a doutrina ismaelita mesmo fazendo parte da religião islâmica é considerada por muitos muçulmanos sunitas como uma doutrina herética. Portanto, em sua busca, o autor compreende que a teologia da cooperação inter-religiosa além de estar enraizada nas interpretações mais autênticas da sua religião é uma necessidade, pois favorece o relacionamento com os outros povos de outras religiões. Rick Love, um pacificador evangélico, afirma que uma abordagem centrada nos ensinamentos de Jesus Cristo para a paz pode favorecer a pacificação entre cristãos e muçulmanos nos Estados Unidos. Em um contexto de violência, Sushobha Barve apresenta a importância do perdão e o seu papel na reconciliação no caso da Índia com o Paquistão.

A parte II do livro aborda os desafios do engajamento com pessoas céticas que não estão convencidas da mensagem da paz ou mesmo que são consideradas “inimigas” da fé. Yael Petretti aborda a sua experiência como construtora da paz no tenso conflito entre Israel e Palestina. Neste capítulo, ela chama a atenção para a virtude da empatia e diz que a habilidade de simplesmente “ouvir o outro” (escuta compassiva) pode ser um recurso poderoso em casos de conflitos intratáveis como é o caso do conflito Israel-Palestina. Em outro cenário de conflito, dessa vez no Paquistão, Azhar Hussain mostra como as madraças (centros de ensino muçulmano) podem ser importantes ferramentas na formação de valores como tolerância, reconciliação e diálogo, importantes para trazer a paz para o Paquistão. Maria Ida Giguiento da organização Catholic Relief Services (CRS) argumenta em favor da humildade para aceitar as outras tradições religiosas. Para a autora, esse é um fator que favorece o aprendizado e engajamento com outras culturas e religiões.

A parte III, “Política de Engajamento”, mostra o trabalho de profissionais que atuam em organizações intergovernamentais e não governamentais. Azza Karam, narra sua experiência na Organização das Nações Unidas (ONU) para mostrar os desafios e o crescimento do trabalho de grupos religiosos em iniciativas para a paz ligadas aos direitos humanos nessa organização fundamentalmente secular. Peter Dixon explica como um cristão pode desempenhar um papel imparcial dentro de um contexto de conflito religiosamente polarizado. Para isso, ela relata o seu trabalho na Concordis International no Sudão. Em outra exposição, Dishani Jayaweera com Nirosha De Silva abordam o combate aos atos de violência no Sri Lanka por meio da análise da influência budista na construção da paz.

A parte IV, “Enfrentando a Injustiça e Trauma”, expõe algumas experiências traumáticas de violência e supressão, incluindo também casos que foram praticados por instituições religiosas. Johonna Turner, mulher, negra e cristã, narra o difícil trabalho feito por ela com adolescentes e jovens adultos afro-americanos da periferia em Washington, DC. Por ter tido uma experiência pessoal com questões traumáticas como o racismo, Turner se baseia no modelo de “curador ferido” como uma forma de ajudar a juventude negra americana a superar e transcender experiências traumáticas. Despina Namwembe de Uganda e Qutub Jahan Kidwai da Índia refletem a respeito da discriminação relacionada ao gênero nas igrejas ortodoxas cristãs e muçulmanas respectivamente. Com vistas a reduzir a violência e fortalecer a construção da paz, em Uganda, Namwembe buscou retratar a mulher como uma mãe forte, cujo amor é incondicional. Na Índia, Kidwai, apoiou-se nos próprios escritos do Alcorão para compartilhar sobre a igualdade de gênero

Em suma, o livro “Making Peace with Faith: The Challenges of Religion and Peacebuilding” aborda questões importantes e muitas vezes negligenciadas dentro do campo de estudos das Relações Internacionais e dos Estudos Para a Paz (Peace Research). Os construtores da paz religiosamente inspirados (praticantes e participantes) compreendem as causas dos conflitos de maneira distinta dos construtores de paz seculares, e por isso tendem a incluir aspectos espirituais ao conflito como a ênfase nas escrituras, símbolos, rituais, oração ou meditação. O envolvimento do componente espiritual na construção da paz pode estar desde a identificação e recrutamento dos agentes, até no processo e estruturação das ações e acompanhamento a longo prazo. Assim, os praticantes da construção da paz baseados na fé trazem intencionalmente esses vários aspectos da crença espiritual em seu trabalho com suas comunidades.

REFERÊNCIAS

Appleby, S. R. (2000). The ambivalence of the sacred: Religion, violence, and reconciliation. Rowman & Littlefield Publishers.

Garred, M., & Abu-Nimer, M. (Eds.). (2018). Making Peace with Faith: The Challenges of Religion and Peacebuilding. Rowman & Littlefield.

Gopin, M. (2000). Between Eden and Armageddon: The Future of World Religions, Violence, and Peacemaking. Oxford University Press on Demand.

Hertog, K. (2010). The complex reality of religious peacebuilding: Conceptual contributions and critical analysis. Lexington Books.

Notas

1 Veja: Appleby, S. R. (2000). The ambivalence of the sacred: Religion, violence, and reconciliation. Rowman & Littlefield Publishers.; Gopin, M. (2000). Between Eden and Armageddon: The Future of World Religions, Violence, and Peacemaking.; Hertog, K. (2010). The complex reality of religious peacebuilding: Conceptual contributions and critical analysis. Lexington Books.
2 A paz negativa é entendida como ausência de guerra já a paz positiva é entendida como a presença de justiça social e relacionamentos saudáveis.

Autor notes

Joyce Kelly Costa Silva: Mestra em Relações Internacionais pela Universidade Estadual da Paraíba (2019), Bacharela em Relações Internacionais pela Universidade Federal da Paraíba (2016) e Membra do Grupo de Estudos em Política, Relações Internacionais e Religião (GEPRIR/UEPB).

Informação adicional

Cómo citar / citation: Costa, J. (2021). “Resenha de livro: Garred, M. & Abu-Nimer, M. (2018). Lanham: Rowman & Litlefield”, Estudios de la Paz y el Conflicto, Revista Latinoamericana, Volumen 2, Número 3, 132-135. DOI: 10.5377/rlpc.v2i3.10445

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