Resenha de livro: Rodríguez Seláez, Suseth (2022). Tão perto do inferno, tão longe de Deus. Mulheres e vítimas do golpe de Estado de 2019 na Bolívia. Tejiendo Nuestra Historia.

Resumo

A subida ao poder de Evo Morales na Bolívia, à frente do Movimento para o Socialismo (MAS) e em representação do bloco indígena e nacional-popular, significou a redução das elites políticas tradicionais ao estatuto de minoria. Este foi também o resultado do derrube da ordem política que estas elites tinham conseguido estabelecer no ciclo de conflito de 2000-2005, o que provocou a atualização da divergência histórica entre uma Bolívia indígena e uma Bolívia branca, tal como estava enquadrada na tese das duas Bolívias. De facto, de acordo com esta tese, Morales chegou ao poder com o imperativo de promover a transformação estrutural do país, o que encontrou obstáculos quando as elites que, representando os sectores médio e alto, e que se auto-identificavam como mestiças, defendiam outro projeto nacional, mantiveram o poder. Assim, com a polarização resultante destes acontecimentos, o contexto da Assembleia Constituinte (2006-2009) tornou-se extremamente aceso, detonando em actos de ódio e violência racial, tendências secessionistas e apelos à guerra civil.